Ontem, numa conversa de café, alguém comentava que as coisas boas que a praxe traz, não são nada comparadas com as coisas más, por isso, a praxe devia ser abolida.
Fiquei a pensar nisto. Se me fazia, ou não, sentido. Se esta teoria tinha alguma razão de ser.
E não tem, para mim, não tem. Comecei a pensar que muito do que alguns veteranos/doutores/académicos/dux fazem, não é praxe. Obrigar alguém a comer comida de cão não promove a integração e inclusão dos alunos no ensino superior, logo não é praxe. Assim sendo, já nem seria de praxe que se estaria a falar. Mas adiante.
Nesta vida, não há nada que só tenha um lado bom. E faz sentido acabar com as coisas porque têm um lado mau? Vamos acabar com o futebol porque há corrupção, mortes em campo, clubismos levados ao extremos e casos de dopping?! Não. Então porque é que este há-de ser um argumento válido para quem não gosta da praxe.
Acredito que os pais fiquem preocupados quando vêem o seu filho ir para a faculdade, saber que vai ser recebido por muitos trajados. Acredito que os futuros caloiros agora estão de pé atrás sobre querem ser praxados. Acredito que os gritos dos universitários pelas ruas da cidade perturbem um dia de sesta ou o almoço na esplanada de alguém. Mas sabem que mais?! A boa praxe, planeada em algumas das instituições deste país, se já era boa, não vai ser alterada. Aquela que era totalmente descabida, perante todos estes acontecimentos menos felizes, tem todas as oportunidades para ser melhorada. E depois há tantas coisas nesta vida que me incomodam. As obras do vizinho, a discussão do casal que mora aqui ao lado, as vuvuzelas (graças a Deus já são escassas!) e etc e tal. E não é por isso que vamos para praça pública pedir que tudo isto acabe. Ou vamos?
Também não poderia deixar de falar do documentário que passou ontem na RTP1. Praxis, acho. Sim, aquilo é a realidade da praxe neste país. Com momentos maus (que, mais uma vez, não são praxe na sua verdadeira essência e devem ser alterados) que fazem com que os caloiros se sintam numa posição desconfortável, que chorem, que queiram desistir de tudo aquilo, mas com momentos mais simbólicos e marcam a vida de qualquer caloiro, como o apadrinhamento (muito seco, naquele caso). E se alguma destas coisas vos pareceu exagerada, nunca se esqueçam que aquilo é um momento isolado do dia de praxe. Se tantas vezes acusamos os outros de generalizar assuntos que nos são queridos, não façamos agora o mesmo!
A reunião com o Nuno Crato. Ai, ai, ai ai ai ai. (e agora deram-me as saudades dos tempos em que ele era o meu grande ódio de estimação por ter um medo terrível do exame de Matemática). É bom saber que vai ser muita gente ouvida, não sei se serão ouvidas as pessoas certas (em quantas universidades corpo docente e associações académicas não se debatem relativamente à praxe? não estaremos a ouvir só os dois lados mais extremistas do caso? só uma opinião). Ah, e só mais uma coisa. Quanto ao facto de ouvir pormenorizadamente as histórias do Meco e do professor do Minho, não seria também saudável ouvir a parte mais feliz desta grande 'história' que é a praxe?