Ontem falava aqui em factor sorte e, à noite, num jantar, dei conta de que também estávamos a falar em sorte, porque é que ela parece só estar lá para umas pessoas e o que é que afinal isso condiciona.
Há quem diga que a nossa sorte somos nós que a fazemos, há quem diga que conseguiu tudo o que tem hoje porque, entre muito trabalho, reconhece que estava no sítio certo à hora certa. Afinal, em que ficamos.
Eu acho que acredito mais no destino do que na sorte, já dizia o Saramago "Saiu-lhe o destino, não a sorte". Acho que algumas pessoas estão destinadas a serem contempladas com o Euromilhões, da mesma forma que outras farão vida a varreu ruas (o que não é vergonha nenhuma), mas também acho que se há gente que se fez a ela própria, que não nasceu no dito berço de ouro e tem tudo o que tem, há ali qualquer coisa a atirar para o talento. E depois há coisas que nós até nem podemos achar muito talentosas, mas que resultaram, porque eram originais, porque caíram na graça de várias pessoas.´
Vamos a casos prácticos.
O Tony Carreira. Não tem um vozeirão, as músicas não são assim nada de espectacular, mas ele resulta, enche o Pavilhão Atlântico (para mim continua a ser Pavilhão Atlântico, qual Meo Arena) com mais facilidade que seja conhecido em qualquer canto do mundo e por mais que os temas das músicas se repitam, há uma legião de fãs que as recebe com o mesmo entusiasmo como se fosse a melhor novidade do mundo. E porquê o Tony e porque não o Emanuel? Porque é que o Danza Kuduro deste mesmo Emanuel teve um sucesso que o Baby Es Una Bomba está muito longe de alcançar? Porque é que há coisas quase iguais que resultam e outras não? Será por serem as primeiras ou por serem fora do comum? Não será isto da sorte o mesmo que uma ideia que resulta no meio de setecentas e trinta e duas exactamente iguais? Talvez seja isso mesmo.
E como é que fazemos essa ideia resultar?! Pois, aí é que entra a sorte, tanto pode dar como não dar, tanto pode vir de alguém talentoso como de alguém que canta tão bem quanto o Zé Cabra.
E os talentosos, onde é que elas ficam? Será que nunca vão conseguir passar de pessoas talentosas que guardam o seu potencial quase anonimamente? Será que a sorte nos lança mas depois sem provas dadas ela depressa acaba? Também me parece que sim.
Bom, seja de que maneira for, que de hoje em diante, sejamos pessoas de sorte (se é que não o somos já, porque da mesma forma que eu acho que é sorte comer desalmadamente e estar magro, magro, essa pessoa magra pode achar uma sorte tem um namorado lindo e nem se dar conta da sorte que, afinal, até tem).