domingo, 3 de fevereiro de 2013

este país é para velhos

Tenho medo de envelhecer. Tenho mede de ficar senil, de ver as rugas a aparecerem, dos cabelos brancos a apoderarem-se da minha mui linda cor de cabelo, de ficar cheia de peles, de querer baixar-me e não conseguir, de perder esta independência. Claro que não penso nisto todos os dias, mas quando dou por mim a pensar no meu envelhecimento, quase que me obrigo a parar e por vários motivos. Primeiro porque não sei quanto tempo vou andar nesta vida (credo!), depois porque não gosto de me auto-deprimir e claro, porque também há a hipótese de ser uma velha milionária que ocupa a sua reforma com cruzeiros no Mediterrâneo.
Mas cada vez mais me convence que, este país, e este mundo (países desenvolvidos) é para velhos, porque se não for para velhos, não é para mais ninguém. Aliás, acho mesmo que não é preciso muito para constatar isso, basta olharmos ao nosso redor, que a maioria das pessoas que encontramos há muito que ultrapassou a faixa dos sessenta.
E a par de todas as questões que se levantam quando se olha para esta sociedade envelhecida - são necessários mais lares, mais empregos direccionados para os idosos, mas adaptações materiais - há sempre o problema da solidão. Por acaso, quando penso na minha vida a longo prazo, essa não é uma das coisas que mais me afecta, talvez porque esteja habituada a passar e a precisar muito de tempo comigo mesma, só mesmo mesmo comigo, talvez porque saiba o quão maravilhosa pode ser uma companhia da televisão. Mas também sei que para muitos idosos de hoje não é assim, porque cresceram em famílias com nove ou dez irmãos, trabalharam uma vida inteira rodeada de muitas pessoas e, agora vêem-se, sem mais nem medos, sozinhos. É por isso que sou daquelas pessoas que nas filas de supermercados, nas paragens de autocarros e nas pastelarias é capaz de dar conversa aos velhotes. Claro que não me meto a falar com eles do nada, mas o contrário acontece e porque não dar-lhes conversa?! Nós aprendemos muito com pessoas mais velhas, aliás, ninguém sabe tanto como elas, mas também, mesmo que falem somente de banalidades ou do acidente que se passou na semana passada ao pé da tal pastelaria, querem coisa melhor do que reparar nas expressões deles, daquelas palavras que já caíram em desuso mas que eu tanto gosto de recuperar, de ver a forma como falam da minha, da nossa geração, de como acham que vai o país, já que já cá estão há muitos mais anos que nós e já passaram por muitas mais coisas.
E, até que esta sociedade seja rejuvenescida (rir, rir, rir), o melhor é mesmo perceber que este país é para velhos, que este país é para velhos.