Sou uma agarrada ao passado, mas ao passado recente. Se houver dia em que não compare o momento actual com o que estava a ocorrer há um ano atrás, é porque esse dia foi muito preenchido que, antes de adormecer, nem tenho forças para o fazer. E, acreditem, isso é mau. Pelo menos para mim, que acabo por sofrer com isto.
Mas nem sou muito de me lamentar do tempo de criança não voltar atrás. Até que hoje, descobri aquela caixa que tem anos de felicidade arrecadados. E eu nem sou muito de ter os objectos, porque penso que se não os tenho todos também não tem graça ter alguns e consola-me pensar que estão na minha cabeça, mas apercebi-me que saber que eles estão tão perto de mim me dá segurança. Continuado, encontrei a caixa que tinha os peluches de uma vida, aqueles com quem dormia, os que odiava, os brinquedos ofertados nos mais diversos Natais, as coisas pelas quais supliquei uma vida e meia, as Barbies, as roupas delas, os Nenucos, os carrinhos, as casas. E depois, embalada, parti para os livros, os da Anita, Uma Aventura, Os Cinco. E, para que a festa fosse completa, os cadernos da escola, os testes, os livros. Oh vida, tantas recordações que eu já não me lembrava, onde ainda deu para encontrar uma ou outra foto perdida...
É estranho ver-me confrontada com a minha vida toda em meia hora. É como se tudo aquilo que passei até agora estivesse codificado em todos os objectos. Mas o que me dá mesmo pena, é ter consciência de que às vezes me esqueço de coisas que me marcaram muito, é saber que há memórias que vão acabar por desaparecer, coisas que jurava que iam estar na minha vida até ao resto dos meus dias.
Acho mesmo que é este medo que me deixa assustada por pensar em desfazer-me dessas coisas (egoísta, eu, que escondia a roupa para não a dar a ninguém).. também por isso gosto de meter todas as fotos no facebook, de guardar bilhetes do que quer que seja, ter todos os livros desde o meu primeiro ano (entretanto já emprestei alguns, agora já não me custa, cadernos é que jamé!!). Ai, que qualquer dia venho aqui dizer-vos que vou ao programa da TLC, extreme qualquer coisa. Ahah (vá, nem tanto ao mar, nem tanto à terra).
Mas voltando à caixa que guarda a minha vida, se tiverem essa possibilidade, vão visitá-la, vão dar por vocês agarrados a bonecos cheios de pó e a lembrarem-se dos tempos em que se davam ao luxo de chegar a casa e ir brincar, depois de ver o Bataton e de lancharem à grande, sem quaisquer tipo de preocupações calóricas.