quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Deixar de Estudar

Ontem uma amiga minha publicava no facebook a foto do auditório da sua universidade, dizendo qualquer coisa como 'é o último semestre da minha vida de estudante'.
Ao princípio, achei uma frase bonita, com aquela carga de nostalgia que todas as despedidas acarretam. Depois foi o pânico.
Pelas minhas contas, isto de estudar já é uma brincadeira na qual ando há catorze anos. Catorze anos, senhores. Os casamentos já não duram catorze anos, os empregos também não, os períodos de estabilidade na vida muito menos.
E parece que foi ontem. Lembro-me da alegria de ir para o primeiro ano, de ter um estojo da Minnie e um dossier com flores, lembro-me que adorava estar ali, lembro-me de pensar como é que as pessoas conseguiam ler tão bem quando era uma tarefa tão difícil, lembro-me de não perceber como é que juntar duas letras do nada pudesse fazer uma palavra e pliiiim, fez-se luz e comecei mesmo a perceber como é que isto de ler se fazia. O tempo é mesmo mais assustador quando nos lembramos de tudo aquilo que está para trás.
Tenho um percurso académico feliz. Provavelmente estão escondidas coisas das quais já não me lembro, mas que até podem fazer-me sentir alguma coisa. Às vezes, dou por mim a contar pelos dedos há quanto tempo foi o meu sétimo e oitavo ano e ficar completamente aterrada. Não sei se alguém sabe ligar perfeitamente ou, vá, até de forma harmoniosa com a passagem do tempo. Eu, garantidamente, não sei.
Mas voltando à foto do anfiteatro. Não consigo imaginar como se encara a ideia de 'é o último semestre da minha vida'. É aflitivo. Dói. Dói a sério. Não sei fazer mais nada da minha vida a não ser 'estudar', ir às aulas, aprender, ouvir. E eu gosto desta vida. Por mais que me queixe das coisas inúteis que tenho de decorar, das horas de sono perdidas, do mau aspecto com olheiras mais fundas que a fossa das Marianas, da alimentação nada saudável, de não ter tempo para outras coisas que, provavelmente, até gosto mais. Mas esta é a minha vida. E se todas as outras mudanças já eram um bicho de sete cabeças para mim, como vai ser quando chegar a casa e não ter trabalhos para entregar, capítulos para decorar, atualizar páginas enquanto se desespera pelas notas?!
Estou a sofrer por antecipação, é certo, não consigo mudar isso. Agora, só queria mesmo aquela sensação de que cada dia era aproveitado ao máximo e que, sempre que tivesse saudades disto, podia voltar, só para me aconchegar um bocadinho.