Se eu achava que esta discussão estava longe de acabar, depois do debate Prós e Contras, então, tenho a certeza. A verdade é que aquilo correu mal: para os que defendem a praxe, que não souberam explicar o que na verdade queriam defender, por fugirem a determinadas questões, por argumentos totalmente descabidos; para os que são contra a praxe pela falta de respeito, pela arrogância e superioridade, por mais do mesmo. Não foi um momento feliz, não se evoluiu nada. Basicamente, ficámos como estávamos, mas ligeiramente mais aparvalhados com a situação.
Muito se fala do tal dux que está há vinte e quatro anos para fazer o curso. Pronto, isso é lá com ele. Se é um exemplo para mim?! Não. Se é um exemplo para quem praxe?! Não. Se é uma autoridade máxima e deve ser respeitada por isso?! Sim. Mas já falamos da questão da hierarquia.
Quanto à fuga às perguntas relativas ao código de praxe. Sim, confere, em Coimbra pode cortar-se o cabelo aos caloiros. Não sei se é por ser rapariga, ou por ter plena consciência dos limites, que acho isto ridículo e absurdo e não vai de encontro ao principal objetivo da praxe - que sim é a integração e não a humilhação.
Já no exemplo da Color Run, que muita gente achou tão descabido e despropositado. Eu não o achei, bem pelo contrário. A praxe, como ela devia ser e como em grande parte dos sítios o é, é brincadeira, diversão, cantar, fazer jogos, pinturas na cara, voltar aos tempos de criança, tão bom como quando se volta a andar de carrossel. E, se as pessoas não gostassem disso, não sentissem até uma necessidade de desanuviar desta vida que, às vezes, nos leva demasiado a sério e nos obrigada a estar sempre tão direitinhos, como é que a Color Run seria a corrida com mais sucesso do país?! Então este paralelismo com a praxe não é assim tão descabido.
Agora a polémica. A hierarquia. Não vale a pena negar que ela existe e que ela deve ser respeitada. Pelo simples facto de que é uma regra, da mesma forma que num jogo de futebol se tem que respeitar um árbitro, da mesma forma que numa empresa há estagiários, contratados, diretores e o chefe. E porque é que há esta necessidade de hierarquia?! Porque a organização é essencial para que tudo funcione bem. Na praxe é igual. Talvez esta hierarquia não esteja é a ser vista de forma correta. Ao contrário do que muita gente pensa, quem está mais elevado não tem como função humilhar todos os que estão para baixo, tem como função certificar-se que os novos que praxam não abusam, lembrá-los de coisas como 'meu amigo, isto a ti até te podia divertir milhões mas... vai ajudar na integração, vai deixar o caloiro confortável, não vai pôr em causa o seu bem-estar'. É para isso que os mais velhos lá estão, para controlar estas euforias, para trazer sensatez, para saber gerir fatores na organização da praxe que, quem praxe pela primeira vez, é incapaz de se lembrar.
E depois a questão mais simples. Se há tanta gente a gostar da praxe, porquê este alarido todo?! Eu não achava graça nenhuma a estas coisas antes de passar por elas. Hoje, olhando para trás, acho mesmo que se não tivesse ido à praxe não me teria aguentado num curso, fora de casa, fora da minha zona de conforto. Foram as pessoas que conheci naquela altura que se revelaram o meu grande apoio, e não foi preciso mandarem-me encher ao partirem-me um ovo na cabeça. Mas isto foi no meu caso. Talvez seja por saber que a praxe, de facto, ajuda e integra, hoje a defenda. (e não me falem em coisas ao jeito de lavagem cerebral, que por algum motivo se é praxado com dezoito anos e não com treze)
Mas é importante falar-se disto a sério, ver até que ponto todos os que praxam têm controlo suficiente para saber proporcionar uma integração decente aos caloiros, longe de momentos de constrangimento e humilhação. Agora não é a tentar camuflar o que de mal se passa que se avança, nem a fazer comentários ofensivos e a chamar frustrados a todos os praxistas.