À semelhança do que acontece com inúmeras pessoas, a minha ida para faculdade implicou mudar de casa. Sair da minha casa, ir para um quarto, com pessoas que nunca tinha visto na vida, voltar ao meu espaço só ao fim-de-semana e conformar-me com este desconforto atenuado por duas noites na minha cama. Até aqui, nada de novo. Já falei sobre isto, já senti várias coisas com todos estes momentos, já tentei escrever tudo o que se passava nessas variadas alturas.
Há uns tempos atrás, ouvia pessoas a dizer 'já não consigo estar tanto tempo em casa, começo a ficar aborrecida, sem nada para fazer' e 'já não é bem a minha casa, já é mais a casa de fim-de-semana'. Confesso que na altura pensei, com toda a convicção, que nunca na minha vida seria capaz de me sentir assim, tão desligada das minhas memórias, do meu espaço, daquilo a que muitos chamariam raízes. Continuo a não conseguir achar que a minha casa de sempre já não é a minha casa - que parvoíce, claro que é! Mas...
Pela primeira vez, em mais de um ano, houve uma altura em que comecei a sentir falta do estar cá e lá ao mesmo tempo, começou a fazer-me confusão estar mais do que uma semana seguida em casa, em não ter as pessoas com que agora passo esta minha nova vida. Acho que é daquelas coisas muito difíceis de explicar. Só quem passa por elas é que consegue, verdadeiramente, explicar o despegar do conforto, a aquisição de uma independência, do faço-o-que-eu-quiser porque vivo 'sozinho', pois, apesar deste contexto tão protegido, em que as contas não são enviadas para nós, não há seguros da casa nem declarações do irs, há uma liberdade diferente que só vai sendo percebida aos poucos.
E onde é que se está melhor?! Pergunta difícil, daqueles que é uma grande ousadia fazer. Depende dos dias, depende das situações, depende, depende, depende. Se estou doente, talvez soubesse bem estar com alguém que lavasse a loiça por nós, ou que fizesse uma sopa quentinha. Se o dia é menos conseguido, apetece chegar a casa e ter tudo feito. Mas e a parte boa?! Essa também a há, não duvido disso. As relações que se criam entre housemates são estranhas. Viver com alguém, numa relação, é um passo importante. Viver com alguém quando se é estudante passa por rezar que nos calhe alguém decente em rifa. Quero acreditar que é estranho, mas estranhamente bom.
Ainda não sei bem o que sinto em relação a tudo isto. Não sei sentir sem tempo.
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