quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Quando vamos para o quinto ano e nos dão o primeiro trabalho de grupo, é um grande motivo de alegria. Finalmente vamos poder reunir em casa de alguém, ter um bolo e batatas fritas à espera dos colegas, qual mini festa de aniversário (sem balões e chapéus com a Kitty), fazer uma pesquisa no computador (no meu tempo era fascinante poder pegar num tema e ir à Diciopédia da Porto Editora tirar informações), fazer um índice, uma conclusão, uma bibliografia, pôr uma baguete, decidir quem apresenta o quê e fazer um brilharete à turma. O meu primeiro trabalho foi assim. E todos os do quinto ano também, daqueles em que eram acabados no próprio dia só para termos a felicidade de ir brincar com barbies a seguir.
É nesta altura que trabalhamos com os melhores amigos, que é assim impensável meter em casa aquele novo que chegou à turma e se reza para que os grupos não sejam escolhidos aleatoriamente. Depois vem o terceiro ciclo, as coisas já são meio diferentes e já pode ser uma coiso por sorteio, que desde que se tenham um amigo no grupo, uma base de segurança, é igual.
Chega-se ao secundário. Começa a subir a exigência e já não há espaço para brincar tanto. É uma altura em que estamos ali num meio termo, trabalhos com os amigos ou por trabalharmos com determinadas pessoas é que as descobrimos quase que verdadeiramente. E também começamos a perceber como tudo isto funciona, verdade?!
E a faculdade. Ai, a faculdade. Era aqui que queria chegar. Quando metemos os pés no ensino superior, começamos a dar conta que o nosso grupo de trabalho representa o núcleo de pessoas com quem se passa mais tempo. Qual família?! Quais amigos?! Qual namorado?! Nada disso. O grupo de trabalho está assim das oito da manhã às oito da noite, numa versão todo o terreno, da sala para a biblioteca, da biblioteca para o bar, do bar para os gabinetes de professores e até com aventuras pelos serviços académicos. Por tudo isto comecei a pensar se seria, ou não, natural, que saiam daqui grandes amizades, que se conheçam pessoas como nunca se tinha pensado.
Como a maioria das respostas que vos dou, este é depende. Já trabalhei com um bom número de pessoas, em trabalhos com maior ou menor dimensão. Acho que há ali gente para lá do espectacular e também há outros que não, de todo. Vamos por partes.
Há pessoas que para trabalhar são excelentes, mas só para isso. É uma espécie de alegria no trabalho, alegria e eficácia, mas fora da porta da faculdade acaba a relação. Tal e qual como se fosse um emprego. Isto quer dizer que nós não temos que ser compatíveis com toda a gente em todas as áreas, podemos estar muito bem na biblioteca, mas num bar a conversa já é outra e quando o tema passa de revisões bibliográficas para o que aconteceu no Verão passado, tudo muda.
Também há o contrário. Pessoas maravilhosas que levamos para todo, todo, todo o lado... excepto para um grupo de trabalho. Aqui não é ser mauzinho, é ser mesmo eficaz e perceber com quem não dá para trabalhar (e em ambiente académico a tolerância para o erro diminui exponencialmente), apesar de poder ser a pessoas mais adorável à face da terra, ainda que não queira nem escrever uma introdução no trabalho.
Por fim há os casos totais. Ou bem que não gosto de ti, não trabalho contigo, nem te dirijo a palavra, nem que vamos os dois plantar abacates em Pernambuco, ou então (e isto é das melhores coisas da vida, cada vez mais raro, convenhamos) damo-nos super bem, aqui no centro comercial, no cinema e na apresentação de um trabalho da cadeira.
Pessoalmente, já tive um bocadinho de tudo. Em parte do meu secundário tive a felicidade de trabalhar com aquelas pessoas que eram, basicamente, a minha vida. Passava todo o santo dia (e às vezes noite) com elas, apenas com algum direito a descanso ao fim-de-semana (sendo que havia sempre alguma mensagem a ser trocada ou uma chamada fofinha). Na faculdade ainda não sei dizer bem, porque um ano é pouco para conhecer tanta gente nova e uma realidade que aparece assim do meio do nada. Veremos.