Dizia uma conhecida minha, indignada nesta vida, que dos caloiros dela, não havia ninguém com uma grande média, eram só pessoas com médias razoáveis, as típicas 'dão para entrar no curso'.
Acho, sinceramente, que ela anda meio a leste do que se passa na cabeça dos alunos. Isso ou ainda é daquelas que acredita que a profissão de sonho que temos aos dez anos, é o que vamos fazer para o resto da vida.
Não acredito em amores para a vida, sou muito pela teoria do iogurte onde tudo tem um prazo de validade, que pode não acabar voluntariamente mas que, por desgaste ou por desleixo, acaba por acabar (redundância!!). Por isso não acredito que haja uma profissão que seja amor para sempre - isto são demasiados anos que, por mais depressa que passem, ou se tornam numa rotina chata, ou então temos logo necessidade de mudança.
O mesmo se passa com o curso. Quantos de nós não quiseram ser médicos, professores, peixeiros ou astronautas? Quantos de nós não juraram a pés juntos que quando fossem grandes iam para aquela profissão e que agora estão num curso completamente diferente? Quantos de nós chegaram ao secundário convictos do rumo que iam dar à sua vida para depois não terem médias ou provas de ingresso. Quase todos nós, assim a atirar para os 98,9%.
A verdade, e por mais feio e chato que seja dizer isto, é que já não se escolhe um curso por ser realmente o que se quer, escolhe-se um curso que se gosta minimamente e para o qual se tem média e prova de ingresso. Porque não podemos esperar que se façam milagres e que todos os alunos comecem a ter uma média de 18 para puderem escolher se querem ir para Medicina ou Estudos Africanos e porque por aqui, infelizmente e por enquanto, o sistema de ensino ainda é assim: somos rotulados pela nossa média, decidimos parte da vida (nem que sejam três anos) com base num número e estamos sujeitos à sorte e inspiração (e estudo!) numa prova nacional. Nem há cá tempo para se pensar que se tem vocação para isto ou para aquilo, nem se valoriza um aluno enquanto pessoa, o que conta é o que ele escreve, que vale mais um assassino esperto do que uma alma caridosa burra.
A vida não é justa, é verdade, mas já todos devíamos saber isso desde o momento em que vimos o Rei Leão.