sábado, 10 de agosto de 2013

Uma vida sem Saudade

Adoro ser portuguesa, adoro Portugal e recuso-me a ser daquelas pessoas que olha primeiro para as coisas boas que se fazem lá fora. Mas há uma coisa que nós temos, que mais ninguém tem, mas que nos desgraça a vida toda, a Saudade.
É mais que nostalgia, é mais que sentir falta, é mais que essas coisas todas juntas e não tem explicação, é uma coisa nossa que se traz tantas coisas boas, também traz muitas más.
Eu então, sou uma saudosista extrema, uma espécie de membro dos Diabos Vermelhos, daqueles mesmo passados da cabeça, que leva isto ao ponto mais ridículo.
Tenho saudades de tudo, das pessoas, das rotinas, dos professores que não gostava, dos colegas antipáticos, de ter que mexer em barro repugnante em EVT, de ter que fazer as típicas figuras de festas de Natal... tanta coisa que não gostava e que, agora, olho para trás com mega sorriso e penso "oh, eu até tenho saudades".
E das coisas boas? Dessas é melhor nem falar. Porque dói muito pensar em algo que já não podemos ter mas que nos fez tão feliz. Pensar que as aulas do secundário não voltam mais, que já não se pode voltar a viver a alegria de um Euro 2004, que certas relação acabaram de vez, que se perdeu tanta gente com palermices e que aquela alegria de chegar da escola e só me tenho que me preocupar com o que vou vestir à Barbie acabou... de vez!
É difícil expressar o quanto isto custo e porque isto custa assim mais que uma dor de dentes aliada a uma dor de ouvidos. Talvez seja por guardar as coisas boas, por não ser rancorosa, por pensar que quem me fez menos bem, fê-lo no tempo certo para o pôr a andar antes que pudesse fazer pior.
Também deve ser por estes motivos que são materialista. Já por aqui devo ter dito que gosto das minhas fotos, dos meus recuerdos, de associar uma música a determinada circunstância e de passar horas deitada em cima de almofadas a pensar no que já passou e de como os meus sonhos eram tão parvinhos.
Mas se há coisa boa nesta da Saudade e de, consequentemente, recordar trezentas e sete e duas coisas por minuto, e tornar-se quase impossível esquecer a quantidade de coisas maravilhosas que já fiz nestes anos, o quão agradecida sou por ter muitas das pessoas que tenho, por ter aprendido com gente que vale muito mais que esse que ganham por aí prémios e por ter tido momentos que me fizeram tão, mas tão feliz. Nestas alturas que, por mais que custe já não ter nada disso, há aquele abracinho mais que fofo capaz de consolar os momentos mais deprê.