terça-feira, 6 de agosto de 2013

super homem

Aqui há dias conheci um senhor que tinha uma vida absolutamente normal até ao maldito instante em que teve um AVC. A partir daí, ficou totalmente paralisado, agarrado a uma cadeira de rodas para o resto da vida e completamente incapaz de mexer os braços ou as pernas. É totalmente dependente das pessoas que lhe querem bem e nunca mais na vida terá o que teve antes do problema de saúde.
Seria uma história incrivelmente triste, se eu não tivesse visto, também, que este mesmo senhor, tem uma família para lá do espectacular. Uma família que não o esconde, que o leva a casamentos e baptizados, que está lá para lhe dar de comer, para lhe levar o neto ao colo, que lhe dá abraços e que brinca com ele, que brinca com a doença e que não tem medo de dizer piadas (não maldosas, atenção) sobre o seu estado de saúde. Uma família que aceitou esta condição de uma das suas pessoas e que, por mais que lhes possa custar, vivem num clima tão positivo que deveria ser um exemplo para todas as outras pessoas que passam pelo mesmo.
É mais um dos casos que me choca, de certa forma, principalmente porque a palavra doença é assustadora, sobretudo aquela que implica uma mudança de segundos, que faz crer que de manhã se acorda super bem e, meia hora depois, está-se dependente para o resto da vida. É estranho como, por mais que controlemos a nossa vida, o que vamos fazer em cada dia, a que idade queremos construir uma casa, comprar um carro, fazer a viagem de sonho... planear mil coisas, algumas que se poderão concretizar sem qualquer imprevisto, outras que daqui a um segundo poderão estar já rotuladas de sonhos impossíveis.
Por outro lado, estas pessoas também dão que pensar sobre temas polémicos. A eutanásia. Sou a favor da eutanásia, desde que sei o que é. Nunca percebi porque é que uma pessoa, que está no seu estado mais consciente, que vê que a sua vida nunca mais passará de uma cama, não tem o direito de dizer se quer ou não estar ali. Não me vejo no direito de obrigar ninguém a viver condenado a algo que não gosta. Mas, muito sinceramente, acho que é um dos temas que é mais fácil falar por fora. Também me custa ver aquelas situações de morte cerebral, em que tem de ser a família a dizer "desliguem as máquinas" e também não sei como é que uma família seria capaz de reagir quando se diz "o seu familiar decidiu que já não quer viver, optou pela eutanásia". Sou muito sensível a toda a ética que isto envolve, sou sobretudo sensível aos sentimentos que isto envolve, por isso, independentemente da opinião que se tenha, o fundamental nestes casos é falar com conta, peso e medida. Não se pode ser muito brusco nem jogar com todos os argumentos da forma mais dura que se saiba, só para demonstrar "aqui quem tem razão sou eu". Porque se fala de vida que, ao fim ao cabo, é um terreno desconhecido.
É nestas alturas que dá para ver que há pessoas com histórias de vida absolutamente fascinantes e que, ainda assim, somos tão pequeninos que continuamos a ir comprar revistas cor-de-rosa, que não trazem mais que escândalos amorosos ou sogras e noras às turras.