A nova publicidade da Renault refere mais ao menos esta ideia de armazenar a vida, desta grande necessidade que temos em meter tudo em discos externos, em pens, em fotografias impressas e coladas na parede do quarto, em texto, em qualquer coisa que nos sirva de suporte, porque há coisas que, inevitavelmente, vamos esquecer... eu também dou por mim a reler o arquivo do blog e a pensar 'isto foi tão giro, como é que me fui esquecer'.
E esta é uma mania normal, por vários motivos. O mais óbvio é que gostamos de ter acesso facilitado a tudo e, as memórias, não são excepção, 500 fotografias de um dia e está logo tudo recordado num ápice. Depois sabemos que muitos vão chegar a idades infinitas e temos medo de esquecer aquilo que fomos.
Eu, essencialmente, gosto de ter recordações porque, mais que qualquer outro motivo, me fazem feliz. Sou nostálgica, sou saudosista, nessas coisas sou totalmente portuguesa e sei que a Saudade é das coisas mais lixadas da vida, principalmente, quando passo metade do dia a lamentar porque é que tudo mudou, porque é que não é como era há um ano atrás e porque é que não posso ter ali as minhas pessoas, a meio minuto de distância, como já estava habituada. Contrariamente ao que muita gente escreve por aí, em frases meias e filosofias baratas, não acho que a saudade indique o sítio para o qual gostaria de voltar. Tenho muitas saudades do meu terceiro ciclo, por exemplo, dos facilitismos, das despreocupações, de ser a melhor da turma sem ter que me esforçar, da ingenuidade, de ter aulas de Moral em que só cantava, de trabalhos onde bastavam três pesquisas na net... mas se voltava a tudo isso? Não, não voltava. Não só porque seria regredir mas porque já não faz sentido. O mesmo se passa com voltar ao meu secundário. Gosto de voltar à escola e a sensação de que aqueles caminhos ainda são meus é algo que continua muito vivo, mas não me vejo a voltar lá se não tivesse as minhas pessoas, a minha turma, os meus professores, as funcionárias da reprografia que tinham paciência de santa enquanto esperavam que recebesse as mensagens de toda a gente que me pediam folhas de testes. Para voltar lá teria que ser reviver tudo outra vez, voltar atrás, tipo cápsula do tempo. Mas, como isso ainda não é possível, acabo por me refugiar nas fotos, nos cadernos, nos testes e nos trabalhos criativos. E isso está armazenado, até ao dia em que o computador se estrague e tudo se vá - já não era a primeira vez - mas, mesmo que não me lembre de qual a blusa que usava ou de como estava o dia, o essencial está comigo, estará sempre, independentemente de estar por escrito, numa pen, ou somente no que sinto.