quinta-feira, 14 de março de 2013

Sair de casa dos pais

Sempre soube que, quando Setembro do ano passado chegasse, lá teria que sair de casa dos papis. Não de forma definitiva, claro, mais numa modalidade "vou só ali passar a semana, mas volto daqui a cinco dias, para enfardar como se não houvesse amanhã, dormir doze horas seguidas na minha cama, deixar loiça suja em cima da mesa da sala, e não fazer nem uma tarefa doméstica".
Sim, sabia que isso ia acontecer, mas nunca pensei muito nisso. Talvez por andar muito entretida com outras coisas, ou por saber que se me meto a sofrer por antecipação demoro vinte e sete anos para adormecer, ou mesmo por medo de me chegar aquela sensação de quem vai dizer au revoir à sua zona de conforto.
Nessa altura, escrevi muitas coisas sobre isso, sobre esta nova solidão, sobre tantos melodramas que só dão vontade de me dizerem 'miúda, cresce, e deixa o síndrome de Peter Pan'. E vocês levaram com isso tudo. Mas acho importante não apagar do arquivo os momentos mais deprê do blog, porque sei que todos os anos muitos de nós passam pelo mesmo e porque, algum tempo depois, gosto de ler o que escrevi, de ver como me sentia, de me lembrar de coisas que já tinham deixado a minha memória, de ver como as minhas opiniões mudaram, de pensar 'que ridícula que sou por ter escrito isto', de... tantas mil e outras coisas.
De qualquer das formas, e como o 2º período acaba amanhã (ai que dor, que eu ainda não vou ficar de férias amanhã), nesta altura muito boa gente já pensa nisso. Claro que ninguém diz 'não quero sair de casa dos pais, tenho medo', mas sim, é verdade, todos nós temos esse medo. Porque por mais independentes que pensemos ser, por acharmos que não precisamos do controlo que deixamos de ter, sair do nosso abrigo e sermos confrontados todos os dias com responsabilidades 'de adultos' assusta-nos... e muito!
Primeiro, começam as questões do cozinhar, do lavar a loiça, do passar a ferro. E depois dou por mim a pensar no tempo que perco com essas coisas, do quão difícil é pensar em preparar todas as refeições, de ir ao supermercado e comprar a comida para a semana, do tempo que se perde a lavar a loiça, do descascar batatas que nos faz perder tempo, do lavar a casa de banho que faz saltar o verniz e deixa as mãos com cheiro a látex... E não, não sou uma dona de casa. Mas, acreditem, não é clichê, nós aprendemos mesmo a valorizar estas coisas. Eu também pensava que não, que esfregar um tacho não era assim tão difícil. Pois, se for um dia por outro, não é. Da mesma forma que ir ali ao Continente e bem mais divertido quando só vamos à secção dos cereais de pequeno-almoço sem pensarmos que condimentos são precisos para fazer uma sopa.
E depois há a questão emocional, a mais lixada de todas. É que, se é verdade que na maioria dos dias de escola uma pessoa chega a casa e não vê mais colegas fofos até ao dia seguinte, também é verdade que quando saímos de nossa casa, não temos as pessoas que estão ali connosco desde do dia em que nós nascemos, ou então, mesmo que chegássemos sozinho a casa e ficássemos home alone (so good), tínhamos a nossa cama, o nosso sofá. E agora não. Há a nossa nova cama, mas que não é a nossa cama de sempre, há os nossos novos colegas de casa mas que são pessoas que conhecemos há três dias, há o nosso novo sofá que já lá deve ter tido tanta gente sentada com as cadeiras do Starbucks.
E quando somos confrontados com todas estas mudanças, vêm as questões da solidão, do 'o que é que eu estou aqui a fazer' do 'será que isto vale mesmo a pena'?. Há vontade de desistir, de voltar para o lugar de onde não queríamos ter saído. Mas aí mais vale pensar que sair de casa dos pais, mais tarde, ou mais cedo, tem que acontecer. E desistir agora implicaria desistir no futuro, desistir de novas oportunidades e assim sucessivamente. Acredito mesmo que será um ciclo vicioso.
Aquilo que eu digo aos meus amigos que vão passar por isto, é basicamente que devemos tentar encarar isto o mais 'na boa' possível. Talvez não seja bom dizermos que há dias que vão realmente duros, mas, acreditem, acho que é ultrapassável. Não sei se algum dia a minha nova casa vai ter o mesmo significado que a minha casa. Talvez não. Mas aprendi que voltar à minha cama é algo tão bom que nunca me tinha apercebido, aprendi a valorizar as férias e o facto de dormir mais que duas noites seguidas na minha almofada. Acima de tudo, aprendi que o essencial é continuar igual, apenas com a diferença que tenho mais um experiência na vida.