terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tolerante, eu?!

Há muitos, muitos anos, devia andar para aí no meu quinto ou sexto ano, mandaram-me escrever um artigo para o jornal sobre o Dia da Tolerância. Lembro-me que os artigos sobre dias importantes estavam no jornal ano após ano, que era mais do mesmo, e que estavam longe de ter aquela emoção de escrever um artigo sobre o corta-mato ou as olímpiadas da Matemática. Mas, como tinham de ser feitos, e como a minha semana, palpita-me, devia ser a contar os dias que faltavam para a próxima reunião do Jornal Escolar, lá fiz de muito bom agrado o artigo.
Como sempre, fazíamos uma pesquisa na internet e, se na maioria das vezes falava do 25 de Abril e do 1 de Dezembro com a alegria de quem falava de uma coisa completamente nova e que ia interessar aos outros (sempre soube o porquê dos feriados, ainda que soubesse que a maioria não só não o sabia, como não se interessava), mas aquele dia da Tolerância atormentava-me, não percebia qual era a necessidade de existir um dia específico para que fôssemos tolerantes (na minha ingénua opinião, de quem nem sequer sabia muito bem o que era a tolerância, achava que, como pessoas civilizadas que éramos, era mais que óbvio que todos nos aceitávamos pacificamente uns aos outros).
Hoje, passados alguns anos, percebo que não é assim. Se eu acho que estou cada vez mais tolerante -  - também acho que a maioria das pessoas cada vez o é menos. Eu explico. No que me toca, aceito pacificamente que somos todos diferentes, seja pela religião, orientação sexual, cor da pele... enfim, sempre me foi igual, cada um é como é e se não gostamos, há muita pessoa no mundo que corresponde às características daqueles com que queremos coabitar (vá, temos que lidar com os outros, mas só recebemos em casa quem queremos e nunca me aproximei/afastei de uma pessoa por ser branca, preta ou amarela). Mas olha para pessoas, da minha idade inclusive, que me fazem comentários tão racistas, tão preconceituosos, que só dá vontade de lhes dar um par de estalos. Tenho amigos gays, pessoas de quem gosto muito e que nunca foram mais ou menos importantes para mim por gostarem de quem quer que fosse e se há coisa que me custa são comentários mesquinhos sobre eles porque, apesar de se dizer que não, são comentários que podem magoar.
Mas também me lembro de ter tido na turma pessoas com deficiências, pessoas pretas, que chegavam ao intervalo e estavam sozinhas. E fazia-me confusão, muita confusão. Aliás, tenho uma vaga ideia de uma dada altura me perguntarem porque é que me dava com elas, de tão anormal que era a situação. É nessas alturas que devíamos ir para uma escola em África e ouvir "olha o branco". Adiante.
Tenho pena que vivamos rodeados de tão pouca tolerância, de tão pouca aceitação, de pessoas que olham para as prostitutas e as julgam sem sequer lhes perguntarem o porquê de eles estarem ali, de estarmos mergulhados num mar de preconceitos que impede a felicidade de muito boa gente.
Num mundo que se quer tão aberto e dinâmico, não devíamos começar por fazer estas pequenas correcções?!

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